Este texto ambiciona cultivar a alegria, numa tentativa de atrair os outros sentimentos bons que povoam o mundo sensorial dos seres humanos. Então, que o pensamento voe livre, ao sabor de uma lembrança doce; porque, na terra dos homens, quem perde tal capacidade fica doente para a vida. Que se dissipem as nuvens negras, que se calem as tempestades e que, nesse armistício, seja louvada uma das supremas criações de todos os tempos: o professor.
Desde eras remotas, o mestre acompanha a evolução humana. Chegou às antigas civilizações, como uma espécie de chefe: distribuiu funções, estabeleceu códigos de condutas, tratados para a aquisição de alimentos, regulamentos para a busca da caça e procedimentos para a segurança do caçador. Certamente, por ele, popularizaram-se as primeiras normas da vida em sociedade e os meios de defesa contra as intempéries. Assim, naquelas tribos primitivas, ainda a beirar a ferocidade do irracional, crianças e jovens aprenderam as leis naturais, tornando-se transmissores desses conhecimentos de geração a geração.
Quanto mais o tempo passava, mais a presença do mestre se fortalecia. No entanto, esse fortalecimento sempre lhe cobrava uma evolução mais acelerada. À medida que crescia o número de indivíduos a seu comando, crescia-lhe também a necessidade de aperfeiçoamento e especialização. A interdisciplinaridade, apesar de tratada hoje como um termo moderno, deve datar-se desse tempo; pois a natureza da função sempre exigiu ecletismo e criatividade. Começava, aí, a busca pelo ponto comum entre todas as ciências, procura que possibilitou grande avanço à ação docente, já que todo ensinamento é produto de um estresse psicológico.
Grande achado, mestre: ensinar e aprender se confundem na mesma procura! Embora o tema não seja matéria para onirismo ou simples abstrações, não dá para fugir dessa verdade. E, com o perdão pelo paradoxo, infelicidade será encontrar o tão almejado ponto de convergência entre as disciplinas. A fórmula trará tanto mal à Educação que a inteligência se tornará algo inócuo. Interdisciplinaridade é algo do tamanho da ambição do indivíduo.
Que alívio! Ninguém jamais poderá determinar onde fica tal ponto, uma vez que o espaço onde ele se encontra depende do estilo de cada um. O que, no máximo, pode existir é uma metodologia para a busca; mas nem mesmo essa metodologia se emprega igualmente a todas as pessoas. Nesse caso, a grande descoberta se resume à própria procura; e sábio é o educador que não se contenta com o que já está pronto. Porque mestre é aquele que ousa e que se lança conscientemente na escuridão do desconhecido, para rasgar novos caminhos.
Foram, sem dúvida, os resultados dessa corrida pelo “ponto imaginário” que encorajaram os primeiros educadores. O “novo” sempre incita o ser humano, propiciando-lhe satisfação no que ele faz. Quem não inova se definha, entrega-se à monotonia e ainda contamina, com sua inércia, aqueles que dependem dos seus conhecimentos. Além disso, apenas pela descoberta se conhece a glória de uma missão assim como se deu com os grandes nomes da história universal. Muitos deles chegaram ao êxtase nas memoráveis lições de Filosofia, nas impressionantes aulas de Lógica, nos perturbadores tratados que regem o Universo, nos postulados de Ética e Cidadania. Que rica herança legaram à humanidade!
Mas tal pedagogia transformou completamente o mestre. A nova postura levou as gerações modernas a exigirem dele outras competências. Hoje, o professor não pode ser apenas um transmissor de conhecimentos, tem de inspirar em si o heroísmo de um pai responsável, o afeto de uma mãe extremosa, o companheirismo de um irmão mais velho, o amor despretensioso de uma irmã, a compreensão de um amigo. Então o mestre se torna médico, psicólogo, juiz, comediante... além de educador. E precisa estar sempre sadio e feliz!
Surge, assim, a necessária de constante atualização. Um educador autêntico sabe que não pode ficar alheio aos apelos dos novos tempos. Mudar é preciso! Foi o que tornou antiquadas certas atitudes da escola: o mestre desceu do pedestal, refez sua linguagem, rechaçou a palmatória. Minerva! Aprender se tornou um evento mais prazeroso e ao alcance de todos. Os tempos modernos agradeceram. A prova desse reconhecimento é tão evidente, que o professor nunca perdeu seu espaço na sociedade. Muitas profissões, com o tempo, tornam-se obsoletas, outras se unem para sobreviver. O professor, não; sua existência é tão fundamental para todas as nações, que ninguém nega a impossibilidade de se evoluir sem ele.
E agora, em meio a tantas adversidades, neste início de terceiro milênio, o que se pode fazer em favor de sua continuidade? Certamente, qualquer iniciativa nesse sentido, deve passar por sua real valorização. Atribuindo-lhe tamanha importância natural, as políticas atuais não podem perder de vista o fato de que “ser mestre” é também uma profissão. O futuro da vida na Terra depende urgentemente disso! É preciso mensurar o valor de seu desempenho social; porque preservá-lo significa fornecer-lhe boas condições de trabalho, defender sua saúde física e mental e, principalmente, dar-lhe condições dignas para manter a si e aos seus.
Entretanto, este texto se propôs a falar de alegria. Então, que se propague a todos os ventos a certeza de que a figura do professor remonta à própria gênese da humanidade. Não pode haver alegria maior que essa! Nesse ponto, a missão docente acontece atendendo a uma Ordem Superior: “levar aos homens de todos os tempos as pregações que modelaram a primeira mente humana”. Assim, ensinar se torna um ato divino, um feito supremo, eterno e enobrecedor. E que essa afirmação não seja simplesmente um recurso literário criado para vangloriar o mestre em seu 15 de outubro. Todo indivíduo que faz bom uso da razão sabe que, mesmo agora, com o espantoso domínio do tecnicismo, o educador é indispensável; sua função nunca poderá ser desempenhada pela máquina, nem mesmo pelos possantes computadores da era moderna. Porque ensinar é, acima de tudo, um ato de amor.
Texto publicado pelo autor, em 2012, no livro “A felicidade se faz de coisas possíveis”, pp. 30-34
Comments