Amou ao filho muito mais que a ninguém mais
Trabalhou duro só para vê-lo formado
Contava histórias, todas bonitas demais
Passou-lhe tudo que a vida tinha lhe dado
Porém quem ama nunca se torna senhor
Pois, sendo amado, sempre se quer mais amor...
Perdeu até sua própria identidade
Perdeu também o domínio da razão
Amando ao filho caiu na escravidão
Só o menino lhe dava felicidade
Porém aquele que a vida não faz sofrer
Nem sempre sabe o que é agradecer...
Por alguns anos, foi o homem mais feliz
Lá da cidade onde ele residia
Não se encontrava em todo aquele país
Um outro homem com tão grande alegria
Mas esta história parece ser conhecida
Em toda a Terra desde os primórdios da vida...
E nessa luta por ver o filho contente
Aquele homem não viu o tempo passar
O seu menino até para estudar
Já exigia que lhe desse um presente
Mas o instinto que domina a criação
É mais perverso que a força da razão...
Nunca se deve cultivar a esperança
De que exista a verdadeira amizade
Só ao amigo se dedica confiança
E é só dele que nos vem a falsidade
Pois se o homem faz dos outros seu abrigo
Nunca prevê quem será o falso amigo...
Aquele filho desde sua juventude
Tornou-se dono de um mundo grande demais
E, tantas vezes, discutia com seus pais
Desafiando os princípios da virtude
Porém se o homem não aprende pelo amor
Terá, um dia, que aprender pela dor...
Muito contente, vivia o pai a dizer
Que conseguiu formar seu filho amado
Mais pela força do que pelo seu querer
Ele estudou se tornando advogado
Mas a quem nunca aprendeu o que é amar
Não adianta instruir ou educar...
Um dia o moço resolveu deixar os seus
Desafiando a existência da sorte
E até zombava de quem foi o seu suporte
Nem confiava que houvesse mesmo um Deus
Mas quem, no mundo, não conseguiu aprender
Nunca está pronto para lutar e vencer...
Pois foi assim que o tempo se passou
E aquele moço construiu uma família
Ganhou dinheiro e se estabilizou
Tinha esposa, dois filhos e uma filha
Porém a vida só o tempo é que nos dá
Só não se sabe quanto ele vai cobrar...
O pai chorava por aquele filho ingrato
Olhava a estrada mesmo sem mais esperança
Só para tê-lo tão vivo em sua lembrança
Todas as noites beijava o seu retrato
Mas até mesmo quem só pratica a bondade
Não está livre do desprezo e da maldade...
Desiludido, muito doente e cansado
Aquele pai que tanto amou seu menino
Como quem volta a um lugar do passado
Fechou os olhos e seguiu o seu destino
Mas neste mundo o que tem de ser será
Dessa verdade ninguém consegue escapar...
Provavelmente aquele bom coração
Achou na morte a mais sensata saída
Levou consigo o que construiu em vida
Com seu amor alcançou a salvação
Porque aos bons, que viveram na verdade
O paraíso existe na eternidade...
Por telefone a mãe ao filho avisou
E ele disse que não ia aparecer
A pobrezinha, chorando, tanto implorou
Que ao rapaz acabou por convencer
Mas quem, em vida, não consegue amar alguém
Leva seus atos ao Juízo do além...
Na cerimônia ficou sempre distraído
Porque o moço só pensava em retornar
E, ali, ninguém o viu sorrir ou chorar
Nem ficou claro se olhou o falecido
Porém se o homem não conhece a piedade
Também jamais será feliz de verdade...
E, quando o filho do lugar se despedia
Tão amorosa, a mãe lhe deu um presente
A caderneta em que o velho escrevia
Ele aceitou só para vê-la contente
Porém aquele que finge fazer o bem
Nunca percebe que engana a si também...
Para não ver a mãe mais triste na hora
Pôs o caderno no bolso do paletó
Com o pensamento de quando estivesse só
Longe dali pudesse jogá-lo fora
Mas como diz um ditado conhecido
Com ferro feres, com ferro serás ferido...
No mesmo dia, enquanto ele almoçava
Aconteceu-lhe um fato interessante
A caderneta saiu do bolso em que estava
Caindo aberta na mesa do restaurante
Porque as coisas quando têm de acontecer
Até os brutos contribuem sem saber...
Leu o seu nome que estava bem escrito
E uma frase em letra tão conhecida
Filho, eu te amo, por ti darei minha vida
Sempre te espero, meu amor é infinito
Mas um problema que nunca tem solução
É o pecado que não merece perdão...
Como quem olha a própria vida e se espanta
O moço estava um tanto envergonhado
Quase sem fala, sentia um nó na garganta
Ao descobrir que fora, assim, tão amado
Porque a dor de alguém arrependido
É bem mais forte por ter o mal construído...
Em pouco tempo leu todo o manuscrito
A ter cuidado para não ser descoberto
Vagava longe em lugar muito deserto
Lembrando as coisas que o pai tinha-lhe dito
Porém a dor de um arrependimento
Nunca se cura nem mesmo com sofrimento...
Voltou depressa para sua residência
E o lar da mãe nunca mais foi visitado
Perdeu a paz, o senso e a paciência
Fez-se um homem odioso e revoltado
Mas todo aquele que só vive de maldade
Atinge todos, sem dó e sem piedade...
Buscando alívio, foi para outro país
Muito distante daquele onde nasceu
O que herdou juntou tudo e vendeu
Na esperança de, um dia, ser feliz
Porém é certo que em toda a existência
O pior mal é o peso na consciência
Um dia a filha encontrou o tal caderno
No escritório onde ele trabalhava
E lendo ali juras de um amor eterno
Foi perguntando quem é que tanto o amava
Mas todo aquele que sofre com o mal que tem
Pensa que todos o estão julgando também...
De sua mesa onde estava trabalhando
Saltou de pé como um animal feroz
Xingando a filha, quase que perdendo a voz
Pensou que ela o estava censurando
Pois, nessa hora, todo o universo conspira
Quando um ser bruto não domina a própria ira...
Cheio de raiva, jogou nela uma caneta
Que acertou o seu olhinho direito
E vendo o sangue colorir a caderneta
Em agonia, percebeu todo o malfeito
Mas não se mede o grau de um desatino
A todo aquele que sente a mão do destino...
A menininha gritando desesperada
Puxou do olho a caneta de metal
Com a pureza do seu sangue angelical
A caderneta ficou toda avermelhada
Nesses momentos não há como escolher
O pagamento que se deve receber...
E foi assim que em ânsia e sem defesa
Viu se espalhando seu instinto vingador
Aquele anjo de candura e de beleza
Era, na vida, o que tinha de mais valor
Pois o castigo que vem para os prepotentes
Pode atingir até os seus descendentes...
Em grande choque, a filha pôs-se a falar
Eu perguntei quem te amou tanto assim
Porque queria ter esse pai para mim
Mas eu te amo e sempre vou te amar
Não há, na vida, sofrimento mais profundo
Ninguém entende a justiça deste mundo...
O velho pai que tanto amou na vida
Não foi amado nem mesmo quando morreu
Gerou um filho de natureza perdida
Que castigou até quem dele nasceu
Mas o amor não é questão de querer
Parece algo que já nasce com o ser...
Ao perceber o seu ato degradante
Aquele moço sentiu o pior abalo
Com um olho cego e o outro tão brilhante
Ela dizia que sempre ia amá-lo
Porém o mal quando é pago com o bem
Este é mais forte para castigar alguém...
Na Internet publico este caso triste
Quero contá-lo aos filhos de toda a Terra
Não há perdão a quem troca amor por guerra
Só aos que amam o paraíso existe
Porque os homens, sejam crentes ou ateus
Ninguém consegue fugir dos olhos de Deus...
Ao relatar essa passagem tão forte
Não tem sentido prosseguir a narração
Mesmo a ruindade não se paga com a morte
É necessário se dobrar à conversão
Porém quem nunca foi herói nunca tem glória
Infelizmente sou o dono desta história...
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