Acorda, Tupã
Vem ver teu filho
Afogado no oceano das injustiças
Sua pele tão já mestiça
Não brilha mais quando bate o sol...
Acorda, Tupã
Vem ver teu filho
Desertado na floresta de arranha-céus
Caçando bichos em lixões...
Acorda, Tupã
Vem ver teu filho
Que nasceu em hospital
E ganhou nome de “José”...
Acorda, Tupã
Vem ver teu filho
Já de cabelos curtos e todo vestido
Um igual a todos em meio à multidão...
Acorda, Tupã
Vem ver teu filho
Bêbado, desgrenhado e errante
Semovente insalubre das ruas
Vulto informe das calçadas...
Cadê Tupã, índio
Que tanto você louvou
A quem imolou seu filho em holocausto
Mas, ouvindo o homem, matou o seu deus...
Agora
Não há mais igara
Não há mais peixe, nem lua, nem céu
Suas terras viraram campos de bois
Metrópoles de concreto e chaminés
Hidrelétricas e garimpos...
A reza dos brancos aplacou os trovões
Tupã dormiu...
Salvador Araújo
set/90
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